06 de Junho – Dia da Pessoa Trancista: Uma Celebração da Cultura, Resistência e Beleza
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ZANZIBAR 1900 FOTO A_C_Gomes e filho |
A escolha do dia não é aleatória. Ela homenageia o nascimento de uma das maiores referências no universo das tranças no Rio de Janeiro: Idalice Moreira Bastos, carinhosamente conhecida como Dai ou AfroDai. Mulher preta, empreendedora, trancista e formadora de dezenas de outros profissionais, Dai deixou um legado imenso. Por meio do seu centro de estética, ela não só embelezava, mas também ensinava a arte de trançar, oferecendo a jovens e adultos uma oportunidade de gerar renda, autonomia e pertencimento.
Muito Além de Estética: Trançar é um Ato de Cuidado e Resistência
O ofício de trançar carrega saberes ancestrais, práticas que atravessaram séculos e oceanos. No Brasil, as tranças representam muito mais do que uma escolha de estilo. Elas são expressões de identidade, de autoestima, de espiritualidade e de conexão com a história do povo preto.
Em um mundo digitalizado, o acesso ao aprendizado das técnicas de tranças cresceu significativamente, com tutoriais, cursos online e compartilhamento de saberes nas redes sociais. Hoje, muitos trancistas começam atendendo amigos, vizinhos e familiares, fortalecendo uma rede que funciona como um verdadeiro quilombo urbano, onde o trabalho é também afeto, cuidado e resistência econômica.
Por isso, ao escolher trançar seus cabelos, é fundamental entender que este é um processo que vai além da estética. É uma relação de confiança, troca e respeito. Afinal, em muitas tradições, a cabeça é sagrada, e permitir que alguém toque e cuide dela é um gesto profundo de conexão.
A Importância do Reconhecimento
A oficialização do Dia da Pessoa Trancista é uma conquista para a valorização desse ofício, que por muito tempo foi marginalizado e invisibilizado. Hoje, é fundamental reconhecer não só o valor econômico, mas também o valor social e cultural desse trabalho.
Cada trança carregada de história, cada fio entrelaçado é um ato de resistência, de beleza, de amor-próprio e de fortalecimento da nossa cultura.
Neste dia, celebramos todas as pessoas trancistas — mulheres, homens, pessoas não binárias — que, com suas mãos habilidosas, constroem não apenas penteados, mas também pontes de autoestima, pertencimento e orgulho.
Referências:
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Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Lei Nº 7.128 de 18 de novembro de 2021. Institui o Dia da Pessoa Trancista no município do Rio de Janeiro. Disponível em: https://www.camara.rj.gov.br (Acesso em maio de 2025).
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Ferreira, Thais. Proposta de Lei nº 7.128/2021. Autoria: Vereadora Thais Ferreira.
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Santos, F. dos. Tranças, estética e resistência: a cultura afro-brasileira nos salões urbanos. Editora Quilombo, 2019.
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Nascimento, A. O quilombismo: documentos de uma militância pan-africanista. São Paulo: Perspectiva, 1980.
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Arquivo Histórico da Fotografia: Zanzibar, 1900. Foto: A. C. Gomes e Filho.