18 março 2011

É bem mais do que só arte

19 de Março - Dia do Artesão
Por: Fernanda Moraes

Vou ser beeeem sincera: nunca tive dom pra coisinhas que dependam das mãos - escrever é exceção, vocês bem podem conferir, até mesmo pra amarrar o tênis, dar aquele laço eu não sirvo, o meu laço é bem torto. Desenhar? Nunca, nem corações apaixonados S2. Tesoura sem ponta na minha mão é arma branca! Por conta disso, qualquer ser humano que consiga fazer mais do que eu usando as mãos, pra mim virou rei (liga aquele ditado da série "em terra de..." ?). E aqueles Rastas que fazem artesanatos nos Arcos da Lapa, ou ali no calçadão de Copa? Chega a ser uma afronta, pelo menos pra mim... Outro dia um deles, de dez ou onze anos me abordou, começamos a conversar e na despedida tava lá ele me mostrando meu nome naqueles arames cor de cobre (?). Foi mais simpático do que ganhar aqueles anéis.

E as Rastas que fazem dread assim, nas calçadas da vida? Esses dias tava observando essa Rasta aqui da foto, as meninas que passavam na rua ficavam loucas, davam gritinhos pra fazer dread com ela. E me perdoem, a conversa tava tão boa, que eu esqueci de perguntar o nome dela, mas o bebê se chama Gabriel, é um rastinha lindo. Enfim, onde nós estávamos era tipo uma feirinha ilegal dos Rastas em Trindade, logo ali de frente pra padaria,éramos uns 8 (como não tenho dom com as mãos, eu só dava apoio moral) e rolava artesanato de todos os tipos: ela com os dreads, uns caras com bongs e jóias e o Douglas que faz mágica com as mãos.


O Douglas é o tipo de cara que aonde chega pára o lugar, LITERALMENTE. Já tinham me falado dele, temos amigos em comum, e eu super curiosa, porque além de tudo ele é simpático. Gente da gente mesmo! E é da rua, a rua que eu amo... Ele conta histórias que são verdadeiras lições de vida e que todo mundo deveria escutar. Mas antes de conhecer o Douglas, o cara falador, que tem um puuta carisma, é obrigatório conhecer o artista e a mágica que ele faz em 15 minutos. Ele chega assim, de chinelo de couro e um mochilão nas costas... Tira um azulejo branco da cartola e de repente, num piscar de olhos, ele te mostra um quadro lindo, com uma combinação única de cores e formas. O público vai ao delírio e com razão.

Vou ser beeeem sincera pela segunda vez: isso não ia dar em texto, não ia rolar nem uma frase. Mas sei que os artesãos, principalmente os Rastas precisam de visibilidade, embora eles afirmem que a babilônia isso e aquilo. Entendo, respeito e compro o barulho. Não é só arte, é uma forma de viver a vida, passar semanas e semanas fora de casa, só com um azulejo, um tubo de tinta e um jet como vive o Douglas e centenas de pessoas por aí. Você há de concordar que viver na rua, não é fácil.


E se você aí que tá lendo esse texto, for ao calçadão de Copacabana, a Lapa, a Trindade, a Ilha Grande, a Bangu, ao Centro da Cidade e encontrar um deles, vê se dá uma moral, vê se dá uma salva de palmas que seja, contribui com a caixinha... Eu posso te garantir que eles vivem só pra isso!

Bless Up.


Por: Fernanda Moraes