11 fevereiro 2011

Na minha família não tem Sapo. . . parte3 de 3

Por:Agnes Maria

Cresci em um mundo em que ter cabelo liso é ter o cabelo bonito, cresci em um mundo que é melhor dizer ser moreno do que negro, é mais aceitável e fere menos as pessoas que estão em volta.

A televisão não tem muitas referencias, quase não temos negros apresentando programas na TV aberta, infelizmente ainda contamos nos dedos modelos negros famosos, o mais recente choque que eu tive na TV foi certa propaganda que dizia, “O sol nasce para todas” com varias mulheres correndo pela praia, mas nenhuma negra.

Acredito que para a minha família o sol nasce diferente, e com eles aprendi a enxergar o mundo de uma maneira mais bonita. Uns tem cabelo Black, outros usam dreads locks, alguns alisam, e outros são carecas, tudo uma questão de estilo.

A mais nova integrante da minha enorme família, tem apenas três anos e um Black Power enorme, preservado pela mãe com muito trabalho e muitas criticas. No seu ultimo aniversário a temática foi “A princesa e o sapo” o filme da Disney, que a princesa é negra, fiquei super feliz ao saber, afinal cresci sem referencias na TV.

Pensei, “que bom a pequenina”, terá uma princesa como referencia “isso é ótimo”, comprei o filme para assistir em casa, me sentei e a revolta veio nos primeiros 15 minutos de filme.

Tiana a princesinha, não era na verdade uma princesa, era uma jovem pobre que lutava para realizar o sonho do pai , até ai tudo bem a maioria das princesas Disney, tem no mínimo uma vida sofrida. Então aparece o príncipe, pode–se dizer que negro também, um tom mas claro do que a jovem trabalhadora, ele vira sapo enfeitiçado pela cultura vu Du, outro preconceito em relação a uma religião de origem negra, uma critica preconceituosa a rituais que não se apóiam, única e exclusivamente na maldade.

Vem o golpe fatal que assassina meus planos de diversão ao ver o filme, ele beija a princesa negra e ela vira sapo também. A coitada passa o filme inteiro como sapo, pulando para lá e para cá, quase comendo mosquito, e sendo devorada por jacarés e por fim resolve continuar sapo para viver ao lado do amado, volta a ser gente (e negra) nos 5 minutos finais do filme.

Desnorteada com esse filme, não sei se fico feliz pois afinal já é um “Gigantesco salto para a humanidade”, ou se fico mais revoltada porque será que além de se esquivar das cantadas ruins dizendo não sou moreninha e sim negra , eu e futuramente minha pequena prima, teremos que lutar gritando bem alto que não somos morenas, muito menos sapos.


LEIA:
Na minha família não tem Sapo. . . Parte1
Na minha família não tem Sapo. . . Parte2


Por: Agnes Maria