19 maio 2025

DANSINKRAN.

Por: @escolaneit


Sempre que mergulho em pesquisas sobre vestimentas, adornos, cabelos, calçados e comportamentos culturais das tradições africanas, algo muito especial acontece: sinto um religare com minha ancestralidade — um fio invisível que me liga à minha família. Nessas horas, recorro à minha mãe e à minha avó paterna, minhas bibliotecas vivas, para compreender melhor os sentidos por trás desses costumes.

Foi assim que cheguei ao estilo DANSINKRAN.

Na imagem (e aqui, se você tem 30+, vai entender o que estou dizendo), a lembrança é imediata: aquele henê Pelúcia ou Divina Dama escorrendo pela testa, alisando a raiz e cobrindo os fios brancos com um preto intenso. Eram 15 dias de “cabelos pretinhos e lisos”, como diziam. E a "Índia Potira" virava o apelido da mona que saía toda poderosa do ritual capilar das nossas mães e tias. Uma memória que carrega muito mais do que vaidade — carrega resistência, cuidado e estilo.

Mas vamos ao que importa: para as mulheres Ashanti, de Gana, essa "tinta" preta que avança além da raiz, quase até a testa, faz parte de um penteado tradicional usado por rainhas-mães e mulheres da realeza. O nome original é Kentenkye, e tem uma história poderosa.

Durante a restauração da Confederação Asante, em 1935, o governador britânico se referiu ao penteado como uma "coroa dançante", e o nome Dansinkran acabou se popularizando.

Mais do que beleza, esse estilo carrega marcadores políticos, espirituais e culturais. Ele identifica anciãs, simboliza sabedoria, poder e riqueza. Hoje, muitas noivas tradicionais Ashanti, que não raspam os cabelos, usam uma cobertura de cabeça que imita o corte Dansinkran, como forma de honrar essa herança.

É sobre isso: reconexão, pertencimento e orgulho.
Cada penteado, cada símbolo, é uma forma de dizer “eu sei de onde venho”.

📸 Créditos da imagem