Por:Élida Aquino
Olhei meu histórico de posts aqui e senti vergonha por nunca ter escrito decentemente sobre o motivo de defender o cabelo natural com convicção. Minha culpa aumentou quando li aqui os depoimentos de outras que estiveram no cruel processo de odiar seu cabelo, tentaram fazer dele outra coisa, acordaram e resolveram voltar para elas mesmas. Pensei nas nossas meninas, que estão fazendo o mesmo. Trança Nagô é um lugar de informção e alerta, nada mais justo que escrever sobre o assunto.
Minha trajetória é “comum”. Alisei, fui escrava da chapinha, relaxei sem pena, queimei meu coro sem dó, chorei por causa do meu volume, levei muitos puxões das minhas matriarcas. Só que o foco não é a parte triste e sim como eu fui parar na ‘rehab’.
No ensino médio encontrei alguém que mudou minha concepção sobre a negritude que estava em mim. Nalui (vulgo Ana Luiza), menina preta, feminista, realista e cheia de dreads, me assustava e encorajava. Eu observava o jeito como ela argumentava e pensava, com choque e admiração, em como ela não temia os rótulos. Eu a vi debatendo com “colegas” racistas incubados, professores ignorantes e por aí vai. Nalui se tornou meu espelho. Eu não queria ser igual a ela, queria pensar como ela. E foi assim que minha descolonização aconteceu. Li um pouco, perturbei muita gente, questionei uma pá de conceitos, abri bem os olhos, vi meu cabelo meio alisado, meio “cacheado” e prometi que se passasse no vestibular cortaria tudo e voltaria pra mim (pra desespero da minha família).
Cortei em doses homeopáticas enquanto esperava meu vestibular. Passei. Cortei de vez. Me senti um menino. Mas, de um jeito meio místico, desde então há outro sentimento quando vejo meu crespo. Me perguntam se dá trabalho pentear e imediatamente penso nas minhas sessões de chapinha. Isso basta pra me fazer afirmar que investir tempo em meu cabelo não é nada diante do que já fiz. Me desrespeitei.
Vocês vão olhar pro começo do texto e se perguntar o motivo de eu ter mencionado “racialidade”. Simples! Tudo que eu fiz foi tentar estirpar minha identidade preta de mim mesma. Acho desnecessário explicar como, basta que vocês percebam que eu queria ser diferente de mim e dos meus iguais, não por culpa minha, mas pelas imposições constantes que me levavam, e que a força do exemplo de alguém foi fundamental na minha recuperação. Neusa escreveu sobre “tornar-se negro” e isso me fez concluir que retornar só acontece quando se entende o que é o sangue preto correndo nas veias, o privilégio das características e da beleza que vem com ele.
Cabelo natural pra se livrar dos julgos, dos padrões que não nos pertencem, da máscara que não é nossa. Pra que nossas crianças possam ir pra escola exibindo suas tranças e seu volume, conscientes de que é assim que elas são e de que esse é um presente sem valor. Pra mostrar de onde viemos e pra onde vamos, que não estamos mais escolhendo nos esconder, nos render, nos trocar. Vão dizer que cabelo natural não significa nada no meio disso. Discordo. Alice Walker disse que cabelo oprimido é teto para o cérebro, logo, liberte seu cabelo e consequentemente sua mente vai pensar de acordo com o que ele mostra.
Pra encerrar, quero pedir desculpas as que vieram ler esperando achar um manual prático de como cortar sem sentir dor e os malefícios da química pro organismo. As dicas que posso dar são: façam sem medo, curtam cada centímetro, admirem a beleza do cabelo. Lutem contra o vício da química. Se observem, aceitem e amem aquilo que são. Deixem o cabelo crescer, abusem das possibilidades, exibam bastante. Nunca baixem a cabeça diante das críticas. Parece impossível, mas com prática e tempo isso passa a ser insignificante.
Minha trajetória é “comum”. Alisei, fui escrava da chapinha, relaxei sem pena, queimei meu coro sem dó, chorei por causa do meu volume, levei muitos puxões das minhas matriarcas. Só que o foco não é a parte triste e sim como eu fui parar na ‘rehab’.
No ensino médio encontrei alguém que mudou minha concepção sobre a negritude que estava em mim. Nalui (vulgo Ana Luiza), menina preta, feminista, realista e cheia de dreads, me assustava e encorajava. Eu observava o jeito como ela argumentava e pensava, com choque e admiração, em como ela não temia os rótulos. Eu a vi debatendo com “colegas” racistas incubados, professores ignorantes e por aí vai. Nalui se tornou meu espelho. Eu não queria ser igual a ela, queria pensar como ela. E foi assim que minha descolonização aconteceu. Li um pouco, perturbei muita gente, questionei uma pá de conceitos, abri bem os olhos, vi meu cabelo meio alisado, meio “cacheado” e prometi que se passasse no vestibular cortaria tudo e voltaria pra mim (pra desespero da minha família).
Cortei em doses homeopáticas enquanto esperava meu vestibular. Passei. Cortei de vez. Me senti um menino. Mas, de um jeito meio místico, desde então há outro sentimento quando vejo meu crespo. Me perguntam se dá trabalho pentear e imediatamente penso nas minhas sessões de chapinha. Isso basta pra me fazer afirmar que investir tempo em meu cabelo não é nada diante do que já fiz. Me desrespeitei.
Vocês vão olhar pro começo do texto e se perguntar o motivo de eu ter mencionado “racialidade”. Simples! Tudo que eu fiz foi tentar estirpar minha identidade preta de mim mesma. Acho desnecessário explicar como, basta que vocês percebam que eu queria ser diferente de mim e dos meus iguais, não por culpa minha, mas pelas imposições constantes que me levavam, e que a força do exemplo de alguém foi fundamental na minha recuperação. Neusa escreveu sobre “tornar-se negro” e isso me fez concluir que retornar só acontece quando se entende o que é o sangue preto correndo nas veias, o privilégio das características e da beleza que vem com ele.
Cabelo natural pra se livrar dos julgos, dos padrões que não nos pertencem, da máscara que não é nossa. Pra que nossas crianças possam ir pra escola exibindo suas tranças e seu volume, conscientes de que é assim que elas são e de que esse é um presente sem valor. Pra mostrar de onde viemos e pra onde vamos, que não estamos mais escolhendo nos esconder, nos render, nos trocar. Vão dizer que cabelo natural não significa nada no meio disso. Discordo. Alice Walker disse que cabelo oprimido é teto para o cérebro, logo, liberte seu cabelo e consequentemente sua mente vai pensar de acordo com o que ele mostra.
Pra encerrar, quero pedir desculpas as que vieram ler esperando achar um manual prático de como cortar sem sentir dor e os malefícios da química pro organismo. As dicas que posso dar são: façam sem medo, curtam cada centímetro, admirem a beleza do cabelo. Lutem contra o vício da química. Se observem, aceitem e amem aquilo que são. Deixem o cabelo crescer, abusem das possibilidades, exibam bastante. Nunca baixem a cabeça diante das críticas. Parece impossível, mas com prática e tempo isso passa a ser insignificante.
(Dedico minhas ideias para Nalui, Bruna Cruz, Ellen, Nani, Meninas Black Power e Trança Nagô. Obrigada pelos fundamentos da minha tese em constante construção.)
#voceleu A Raiz da História
Bem, assim como tem em alguns blogs, aqui você vai pode conta a história do seu
cabelo. Contar todo o processo, seus medos, os resultados, o que ajudou . . .
Quer participar também?! Manda a história com fotos
pro e-mail:trancanago@gmail.com No assunto: A Raiz da História.
cabelo. Contar todo o processo, seus medos, os resultados, o que ajudou . . .
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