09 agosto 2011

A Raiz da História #1 - raiz reprimida

"acabei sendo aceita pelos outros e por mim mesma"
Por:Letícia Santanna

Quando criança, sem escolha, fui apresentada ao Tóin! Pra quem não se lembra era um permanente louco do Netinho que fez meus cabelos de 8 anos caírem depois de ficarem amarelos.

Desde então, passei por vários salões tentando remediar um problema tenro em uma criança negra moradora de uma cidade pacata e sem “respeito à diversidade” apesar de ser só isso, diversa. Minha auto estima sempre foi jogada no lixo. Bombril, palha preta, coisa dura, ruim, etc... Meus ouvidos fizeram meus olhos chorar por muitas vezes. Um dia, resoluta de que iria solucionar meus problemas, minha mãe me levou a um salão novo que abrira em Queimados/RJ. O resultado do alisante me fez abrir um sorriso e dias depois entrar em depressão quando da queda repentina de todos os meus fios frontais.

Aos 12 anos usava lenço na cabeça como a minha avó. Foi muito forte e duro. Os anos se passaram e fui apresentada a uma nova química que não me fez mal. Meu cabelo se adaptou, se alisou, foi lambido, cansou de lutar pra ser vivo... Enfim, foi perdendo aquele poder negro. Mas acabei sendo aceita pelos outros e por mim mesma...


Lembro-me de aos 15 ficar em 2º lugar no Concurso de Beleza Negra da escola quando a cabeleireira pôs pra cima meu cabelo. Achei o máximo, mas não tinha coragem de viver daquilo. Até porque, logo comecei a labutar. Trabalhando com Turismo em empresas formais e depois em escritórios burgueses, sempre me vi impedida de assumir o Black que os anos de consciência negra me pregavam ser necessário.

Finalmente, no começo deste ano, fui aceita em uma ONG. Dou aula de reforço para meninos e meninas que, diferente de mim, possuem ícones semelhantes a eles na TV. Meu aluno se auto apelidou Obama, o outro é André (Lázaro Ramos na Novela das 21h) e as meninas seguem estilo Sheron Menezes, Juliana Alves, Thais Araujo e outras negonas populares. No meio delas, era chamada de Michelle Obama, pela insistência em escovar.

Já fazia um tempo, porém, que decidi colocar o desejo e a raiz reprimida pelos anos pra tomar sol de gente bronzeada com valor. Daí que, graças a Trança Nagô, conheci o trabalho de Cláudia Talitah e pus pra fora a emoção de ser negona do Banto.

Estou muito feliz com o resultado e com os comentários de pessoas que agora dizem com franqueza que o alisado não tinha identidade em mim.

Não posso deixar de comentar o quanto a abordagem masculina mudou em número e etnia. Hahaha. Sim! Nagô desperta sorrisos negros, rs. Adoro!



Brincadeira à parte, de hoje em diante, só quero cabelo de raiz com essa alegria genuína que sempre quis.
Letícia Santanna-22 anos

Viva Nagô, meu sinhô!
Por:Letícia Santanna

A Raiz da História
Bem, assim como tem em alguns blogs, aqui você vai pode conta a história do seu
cabelo. Contar todo o processo, seus medos, os resultados, o que ajudou . . .
Quer participar também?! Manda a história com fotos
pro e-mail:trancanago@gmail.com No assunto: A Raiz da História.