03 fevereiro 2011

IV Seminário de Inserção e Realidade Parte5 de6

"Não nos querem!"
Por: Fernanda Moraes

O terceiro e último dia de debates foi o mais caloroso. Talvez até tenha sido o dia de REpensarmos o verdadeiro valor da mulher negra. Aquela mulher negra, antes citada por Aduni Benton: Em uma de nós, vivem várias!

O tema da mesa no dia 27 de Janeiro foi O Negro e as Artes Cênicas - "Por que continua rara a presença de atores e assuntos cotidianos da comunidade negra na dramaturgia teatral brasileira?Por que,em geral,os papéis representados por negros são papéis de "negros",e não de cidadãos inseridos na sociedade?Por que os conflitos e problemas atuais dos negros no Brasil raramente são vistos como temas de produções?Qual a posição e a opinião dos autores,diretores, produtores e atores brasileiros sobre as contradições sociorraciais em nossa sociedade? ".

1° Palestrante-Iléia Ferraz 2° Palestrante-Haroldo Costa 3° Palestrante-Luiz Antônio Pilar 4° Palestrante-Hilton Cobra



Iléia Ferraz, diretora de artes cênicas, foi quem abriu o último dia de debates da ABL. Contou sobre a importância da década de 80 para as CIAS de teatro negras, foi nessa década que se iniciou o movimento que era contra negros só representarem, na TV ou teatro, papéis de negros, como escravos. Nas CIAS o negro exercia papel de cidadão: Médicos, professoras, pais e mães de família.

Sobre a importância feminina no teatro, Iléia citou o espetáculo "Sete Ventos" da atriz e autora Débora Almeida;o espetáculo "Orixás" de Aduni Benton e "Parem de falar mal da rotina" de Elisa Lucinda.

"...um não-negro consegue produzir um bom espetáculo e um negro não!"
Essa foi apenas uma das inúmeras críticas do dia na casa de Machado de Assis.

O segundo palestrante do dia, Haroldo Costa, afirmou que é de extrema importância esse tipo de debate dentro da Academia Brasileira de Letras. Não só o debate, mas o Movimento Negro estar, enfim, dentro da ABL. Em seu breve discurso, Haroldo conta que o Carnaval é o único momento que o negro se comporta e pode se comportar como negro. Tem seu espaço.

Essa afirmação trouxe divergência para o auditório onde acontecia o seminário, logo o terceiro palestrante do dia, Luiz Antônio Pilar diria que o negro não precisa do carnaval como seu espaço.

Luiz Antônio Pilar é diretor e produtor de teatro e televisão. Atualmente trabalha na Rede Globo de televisão e não teve receio em afirmar que "A Globo não sabe o que fazer com o negro!". Disse também que não poderia deixar de manifestar-se a favor das mulheres negras no evento: "Não podemos nos dividir!".

Luiz Antônio fez uma grande observação em cima do que Iléia Ferraz já tinha colocado: Desde o filme "Cidade de Deus" até hoje, foram produzidos 18 outros filmes com o mesmo conteúdo e/ou desenrolar da história como "Quase Dois Irmãos" e "Carandiru". Mas a grande questão é que NENHUMA dessas produções tinha um negro, ou melhor, todas essas produções foram feitas por não-negros.

O diretor da Rede Globo continua seu discurso dizendo que foi até a Petrobrás, que financia e financiou todos os 18 filmes e questionou sobre a falta de negros na produção dos filmes. E aí levanta-se uma outra questão:"a Petrobrás diz que não existe nenhum tipo de preconceito.O que existe são critérios. E que infelizmente nenhum filme que possua negros foi bom o suficiente para ser aprovado por esses critérios. "Afirma o diretor.

Cadê a qualificação? Voltamos aquela velha discussão sobre ensino fundamental? Cotas? Escolas e Universidades?

A partir desse questionamento, a Petrobrás financiou o filme "Em Quadros", de direção de Luiz Antônio Pilar e que conta sobre a vida televisiva e teatral de Milton Gonçalves, Ruth de Souza, Zezé Mota e Iléia Garcia.

Se não fazemos nós, quem faz?

O quarto e último palestrante do dia foi o responsável por todo aquele calor do início deste texto. O nome dele é Hilton Cobra e fez uma linda e emocionante performance junto com a CIA de Teatros DOS COMUNS a qual dirige.

Flor, lenço e batom vermelho. Assim Hilton fez sua palestra. Quando perguntado por nós do Trança *Nagô*, se era uma crítica á falta de mulheres á mesa, Hilton foi direto:SIM. É dele também a frase que diz: Não nos querem!



A TV,o teatro... "Meu sonho era seqüestrar o Roberto Marinho,e no resgate eu iria pedir um mês do povo brasileiro sem a TV,sem novela."Ironiza.

A Cia dos Comuns lia poemas e textos lindos, ora criticando, ora elogiando a "Buceta da Minha Nega", quem esteve lá pôde conferir de perto.

Pra fechar essa matéria, resumir o evento, deixo para vocês o trecho de um texto que foi dito por uma das mulheres da Cia.

"...Vocês levaram meu filho.Mas eu tenho do meu lado Xangô,que é pai.E pode falar pra quem mandou você aqui,que daqui do meu terreiro vocês não levam nem uma pedra.Porque aqui é uma casa de mulher...e quando mulher FAZ,FAZ BEM FEITO!"

Recado dado.